Tenho vergonha de dizer que escrevo.
Tenho vergonha do que eu escrevo.
Odeio tudo o que eu escrevo.
Odeio não conseguir escrever nada decente.
Esse texto mesmo, era pra ter mais umas quinhentas palavras, mas eu desisti.
Tensão Crônica
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Do fim: banal e inevitável - Parte I
Acordou morrendo de sede depois de um sonho estranho. Levou
alguns segundos para assimilar o lugar onde estava e logo a noite passada veio à sua cabeça junto com um latejo de dor. Olhou para o corpo inerte do homem ao seu
lado na cama, Adam, que havia conhecido na festa de ontem, dormia profundamente
e roncava baixinho.
Sentou-se na beirada da cama e vestiu a mesma camiseta
branca com um desenho em preto que usara na noite passada. Pegou o maço de
cigarros de filtro vermelho, pensativa. Era estranho poder fumar sem a culpa de
que aquilo poderia matá-la. Virou o
rótulo do maço e viu a imagem de um feto abortado junto com um monte de cinzas
de cigarro e uma legenda “Vítima deste
produto”. Aquilo era tragicamente cômico. Eu nunca vou ter filhos.
Levou os dedos
indicador e médio da mão esquerda ao seio direito e apertou o nódulo. Estava
dolorido e era um pouco maior que uma bola de gude. Levantou-se e foi ao
banheiro, lavou o rosto com aquela água fria, tentando lembrar em que bairro
ficava o apartamento em que estava. Voltou pro quarto e vestiu-se evitando
fazer barulho. A última coisa que queria era passar pela situação
constrangedora de ter que dar bom dia ao estranho com quem fez sexo a poucas
horas. Calçou as botas e prendeu o cabelo despenteado bem alto num rabo de
cavalo.
A caminho da geladeira, onde pegou uma garrafa de água,
encontrou a sua jaqueta de couro no chão da sala. Deu uma olhada na
estante de livros do Adam e concluiu que ele deveria ser um cara muito legal.
Ele tinha um acervo com livros de todos os autores beats que ela conhecia.
Viu-se pensando que não seria tão ruim assim se ele
acordasse e a convidasse para tomar um café. A consciência daquele desejo a fez
sentir como uma garota estúpida de catorze anos. Ele provavelmente nem vai lembrar o meu nome quando acordar. Percebeu
que estava demorando demais para sair dali, mas um misto de curiosidade e
ansiedade fizera com que ela continuasse naquele apartamento, que a pouco tempo
lhe era completamente desconhecido - imóvel - esperando que ele viesse até ela e
a beija-se enquanto insistia pra que ela ficasse um pouco mais.
Ficou por volta de três minutos fantasiando essa cena ridícula,
pensando em vários detalhes mórbidos sobre um possível diálogo que eles teriam
enquanto estivessem tomando café da manhã no qual ela lhe perguntaria sobre as suas preferências literárias e fingiria surpresa quando ele dissesse que gostava de todos os
escritores malditos. Chacoalhou a cabeça, tentando afastar aquelas bobagens e saiu deixando a porta aberta.
Continua.
domingo, 13 de janeiro de 2013
Lembrava-se
Pensou no livro que não escrevia, no amor que não tinha e
nas cartas que não recebia. Pensou nos filhos que não tivera, na família em que
nascera e na mulher de quem já não se lembrava de a muito tempo. Lembrou-se de
todas as caridades que não fizera, de todas as escolhas amargas que havia
tomado ao longo de todo o seu tempo nessa terra.
Esqueceu-se de pedir perdão mais vezes do que podia se
lembrar, e agora toda a culpa do mundo recaia sobre aquele rosto que lhe parecia de um estranho quando olhava sua imagem no velho espelho manchado.
Havia muitas noites que não dormia por mais de três horas
ininterruptas. Olhando ao seu redor e tudo parecia antigo e mofado. Já não tinha mais o ânimo de uns 20 anos
atrás. A última vez com que falara com alguém fora há duas semanas, quando o
telefone tocou chamando por um nome que não lhe pertencia mais, disse à
interlocutora que era engano.
Gastava o seu tempo lendo jornais velhos da época em que era
menino ou jogando xadrez sozinho. Os
dias eram cada vez mais longos e se arrastavam consecutivamente e o que os
diferenciava era apenas o contorno das nuvens no céu... Enquanto ele aguardava ansiosamente o dia em
que o seu coração pararia de bater.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
O grito
Rabiscava palavras indizíveis em blocos de papel sobre a
mesa de trabalho. Era sua terapia. Uma vez conhecera uma senhora que desenhava
pornografia no Paint quando ficava
estressada. Pensou em procurá-la e sugerir que fizesse uma exposição.
Decidiu buscar café. Sim, isso exigia um pouco de preparação,
traçou sua rota pelo escritório até a mesinha em que ficava a garrafa térmica
laranja. Concentrou-se nela. Levantou-se e checou se havia alguém que pudesse
atrapalhá-lo durante o caminho. Um estagiário conversava com uma supervisora a
menos de um metro de onde deveria passar pra alcançar o café. Tomou fôlego e
foi.
Felizmente não houve nenhum imprevisto. Olhou para o copinho
plástico destinado ao café. Quem estipulou aquele tamanho? Parecia muito desproporcional.
Gostava de tomar grandes quantidades de café, conhecia muita gente que
concordaria com ele caso comentasse isso com alguém. Pensou em escrever um
e-mail para a fábrica, e pedir explicações plausíveis para aquele tamanho de
copo.
De volta para a sua mesa, pensou em como seria
desconcertante se alguém lesse o que ele escrevia nos blocos de papel. Temia a
possibilidade de alguém algum dia perguntar o que ele estava escrevendo. Mas eles
nunca iriam saber. Assim que o efeito terapêutico era atingido, destacava as
folhas do bloco e eliminava-os metodicamente. Primeiro os dobrava ao meio e então
pegava sua tesoura e os cortava em quadrados de dois centímetros de
lado.
Ninguém escutava, mas ele gritava desesperadamente por trás
de seu rosto impassível.
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