Rabiscava palavras indizíveis em blocos de papel sobre a
mesa de trabalho. Era sua terapia. Uma vez conhecera uma senhora que desenhava
pornografia no Paint quando ficava
estressada. Pensou em procurá-la e sugerir que fizesse uma exposição.
Decidiu buscar café. Sim, isso exigia um pouco de preparação,
traçou sua rota pelo escritório até a mesinha em que ficava a garrafa térmica
laranja. Concentrou-se nela. Levantou-se e checou se havia alguém que pudesse
atrapalhá-lo durante o caminho. Um estagiário conversava com uma supervisora a
menos de um metro de onde deveria passar pra alcançar o café. Tomou fôlego e
foi.
Felizmente não houve nenhum imprevisto. Olhou para o copinho
plástico destinado ao café. Quem estipulou aquele tamanho? Parecia muito desproporcional.
Gostava de tomar grandes quantidades de café, conhecia muita gente que
concordaria com ele caso comentasse isso com alguém. Pensou em escrever um
e-mail para a fábrica, e pedir explicações plausíveis para aquele tamanho de
copo.
De volta para a sua mesa, pensou em como seria
desconcertante se alguém lesse o que ele escrevia nos blocos de papel. Temia a
possibilidade de alguém algum dia perguntar o que ele estava escrevendo. Mas eles
nunca iriam saber. Assim que o efeito terapêutico era atingido, destacava as
folhas do bloco e eliminava-os metodicamente. Primeiro os dobrava ao meio e então
pegava sua tesoura e os cortava em quadrados de dois centímetros de
lado.
Ninguém escutava, mas ele gritava desesperadamente por trás
de seu rosto impassível.
elisa, você escreve fodasticamente bem. eu que deveria ficar sem blog.
ResponderExcluirbeijos!
muito legal!! mto bom!!
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