Acordou morrendo de sede depois de um sonho estranho. Levou
alguns segundos para assimilar o lugar onde estava e logo a noite passada veio à sua cabeça junto com um latejo de dor. Olhou para o corpo inerte do homem ao seu
lado na cama, Adam, que havia conhecido na festa de ontem, dormia profundamente
e roncava baixinho.
Sentou-se na beirada da cama e vestiu a mesma camiseta
branca com um desenho em preto que usara na noite passada. Pegou o maço de
cigarros de filtro vermelho, pensativa. Era estranho poder fumar sem a culpa de
que aquilo poderia matá-la. Virou o
rótulo do maço e viu a imagem de um feto abortado junto com um monte de cinzas
de cigarro e uma legenda “Vítima deste
produto”. Aquilo era tragicamente cômico. Eu nunca vou ter filhos.
Levou os dedos
indicador e médio da mão esquerda ao seio direito e apertou o nódulo. Estava
dolorido e era um pouco maior que uma bola de gude. Levantou-se e foi ao
banheiro, lavou o rosto com aquela água fria, tentando lembrar em que bairro
ficava o apartamento em que estava. Voltou pro quarto e vestiu-se evitando
fazer barulho. A última coisa que queria era passar pela situação
constrangedora de ter que dar bom dia ao estranho com quem fez sexo a poucas
horas. Calçou as botas e prendeu o cabelo despenteado bem alto num rabo de
cavalo.
A caminho da geladeira, onde pegou uma garrafa de água,
encontrou a sua jaqueta de couro no chão da sala. Deu uma olhada na
estante de livros do Adam e concluiu que ele deveria ser um cara muito legal.
Ele tinha um acervo com livros de todos os autores beats que ela conhecia.
Viu-se pensando que não seria tão ruim assim se ele
acordasse e a convidasse para tomar um café. A consciência daquele desejo a fez
sentir como uma garota estúpida de catorze anos. Ele provavelmente nem vai lembrar o meu nome quando acordar. Percebeu
que estava demorando demais para sair dali, mas um misto de curiosidade e
ansiedade fizera com que ela continuasse naquele apartamento, que a pouco tempo
lhe era completamente desconhecido - imóvel - esperando que ele viesse até ela e
a beija-se enquanto insistia pra que ela ficasse um pouco mais.
Ficou por volta de três minutos fantasiando essa cena ridícula,
pensando em vários detalhes mórbidos sobre um possível diálogo que eles teriam
enquanto estivessem tomando café da manhã no qual ela lhe perguntaria sobre as suas preferências literárias e fingiria surpresa quando ele dissesse que gostava de todos os
escritores malditos. Chacoalhou a cabeça, tentando afastar aquelas bobagens e saiu deixando a porta aberta.
Continua.
elisa, você é FODA! já estou aguardando a continuação =)
ResponderExcluirPs. isso dá um roteiro genial pra um curta.
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