quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O grito


Rabiscava palavras indizíveis em blocos de papel sobre a mesa de trabalho. Era sua terapia. Uma vez conhecera uma senhora que desenhava pornografia no Paint quando ficava estressada. Pensou em procurá-la e sugerir que fizesse uma exposição.

Decidiu buscar café. Sim, isso exigia um pouco de preparação, traçou sua rota pelo escritório até a mesinha em que ficava a garrafa térmica laranja. Concentrou-se nela. Levantou-se e checou se havia alguém que pudesse atrapalhá-lo durante o caminho. Um estagiário conversava com uma supervisora a menos de um metro de onde deveria passar pra alcançar o café. Tomou fôlego e foi.

Felizmente não houve nenhum imprevisto. Olhou para o copinho plástico destinado ao café. Quem estipulou aquele tamanho? Parecia muito desproporcional. Gostava de tomar grandes quantidades de café, conhecia muita gente que concordaria com ele caso comentasse isso com alguém. Pensou em escrever um e-mail para a fábrica, e pedir explicações plausíveis para aquele tamanho de copo.

De volta para a sua mesa, pensou em como seria desconcertante se alguém lesse o que ele escrevia nos blocos de papel. Temia a possibilidade de alguém algum dia perguntar o que ele estava escrevendo. Mas eles nunca iriam saber. Assim que o efeito terapêutico era atingido, destacava as folhas do bloco e eliminava-os metodicamente. Primeiro os dobrava ao meio e então pegava sua tesoura e os cortava em quadrados de dois centímetros de lado.

Ninguém escutava, mas ele gritava desesperadamente por trás de seu rosto impassível. 

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